sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Convite exposição virtual

Para a Primavera dos Museus 2010, cujo tema era "Museus e redes sociais", o Museu de Arte de Belém montou uma atividade especial cujo resultado gerou uma exposição virtual. Confira!


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Arte infantil

Com o "Dia das crianças" chegando, o MABE propõe uma reflexão e estímulo à criatividade infantil:

Arte Infantil
Ivan Alves Filho
Historiador

Quando o adulto decide chamar a atenção de uma criança, ele frequentemente recorre a fórmulas do tipo “pare de pintar o sete” ou então “não faça mais arte”. Basicamente, podemos extrair duas lições disso. A primeira delas tem que ver com a vitalidade das crianças, que normalmente custam mesmo a ficar quietas. A outra concerne à própria natureza da arte, isto é, à sua capacidade de subverter o mundo real. Não é difícil imaginar então: a união da atividade artística com o mundo das crianças resulta em uma verdadeira explosão. E é isso, a meu juízo, o significado profundo da arte infantil: uma verdadeira explosão de criatividade. Tão doce quanto indomável.
Como escreveu certa vez Herman Hesse, “as crianças vivem em uma das margens do desespero; os lúcidos, em outra”. Eu mesmo despertei para a importãncia da arte das crianças quando entrevistei o psiquiatra francês Tony Lainé para a Módulo. Foi esse um dos melhores materiais jornalísticos de minha carreira. Aprendi com Tony Lainé que a arte infantil não era apenas um instrumento terapêutico, já que se configurava como uma peça fundamental da construção da personalidade de cada um de nós, possuindo uma indisfarçável dimensão estética.
Não tem muito tempo que a chamada arte infantil desfruta de algum reconhecimento no mundo ocidental. Na verdade, a própria criança – e isso ocorre pelo menos até o período renascentista – não gozava de muita consideração na Europa. Ela não passava de um projeto de adulto, conforme demonstrou com brilhantismo o pesquisador francês Phillipe Ariès em trabalhos como História social da família e da criança.
Esse cenário começaria a mudar a partir das observações do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau. O Autor de Émile foi um dos primeiros a sugerir, no século XVIII, que a criança não era um mero projeto de adulto ou um adulto pequeno, como então se pensava. Para Rousseau, a criança possuía uma lógica própria de expressão, diferente daquela do adulto. Conforme defendeu em seus escritos, a criança vivia no mundo da fantasia, menos submetido à rigidez dos conceitos, à frieza da lógica. Essa a sua singularidade. E estava certíssimo.
Tudo isso fica muito claro quando examinamos a arte dos adultos em contraposição àquela das crianças. Quanta liberdade de criação nessa última, quanta espontaneidade! Já a manifestação artística dos adultos é tridimensional, regida pelas leis da perspectiva. Uma arte mais seca, talvez. E menos fantasiosa, seguramente.  
Toda arte é comunicação. Mas, para a criança, que ainda não verbaliza corretamente, ou não domina completamente a linguagem das palavras, o desenho (ou a pintura) representa muitas vezes um meio fundamental de expressão. E isso dos mais diferentes estágios, ou seja, dos rabiscos iniciais à utilização de cores e de formas um pouco mais elaboradas na realização da obra.
Muitas vezes a criança perde a sua capacidade de criação ao se adaptar ao universo dos adultos, quase sempre um universo esclerosado, por vezes até mesmo inimigo da Arte e das formas imaginárias de expressão. No mundo dos adultos, a criatividade quase sempre foi substituída pela dura realidade de um trabalho repetitivo, monótono, absolutamente alienado ao homem.
E é o que nós constatamos quando olhamos à nossa volta. Ao crescermos, perdemos aquela pureza que só encontramos nos pássaros e nas crianças. Os antigos tupi diziam que a noite havia escapulido de um caroço de tucumã e teimava em escurecer tudo. Até que um pássaro, nascido de um fio de cabelo de uma moça bonita, cortando a noite com a lâmina do seu canto, deu origem ao dia. Separou as coisas. Talvez o mundo das crianças represente, em relação àquele dos adultos, algo parecido com isso: uma linha divisória entre a noite e o dia.
Para a criança, pintar o sete pode não ser tão negativo quanto se pensa.